A sorte que temos e o agradecimento que temos de fazer todos os dias

Ao ler o último post da Gaja Maria (no Pensamentos de uma Gaja) não pude de deixar de sentir uma tristeza imensa pela realidade que muitas pessoas ainda passam, ao ponto de irem bater as portas alheias a pedir comer. Comer para sobreviver!

A minha zona, nos arredores de Lisboa, tem de tudo um pouco, e também me aflige quando a minha filha chega a casa da escola e diz que a Directora de Turma pediu que recolhessem arroz, massa, açúcar ou leite, que levem roupas de homem adulto e criança porque há necessidade de fazer distribuição pelas famílias/alunos carenciados da escola.
Ou o colega dela, que tem o pai no estrangeiro, que não manda dinheiro para a mãe desempregada e doente e que não se consegue concentrar na escola. Será que há dias que vai para a escola sem comer?

E até mesmo a revirar caixotes do lixo, é uma realidade que ainda existe!
Temos no bairro uma senhora que deve ser mais nova que aparenta, usa um carrinho de bebé velho adaptado à recolha de bens dos caixotes. Tira tudo o que poder aproveitar, pequenos moveis, roupa, bugigangas que já não dizem nada a ninguém senão a ela.

Ou o carro com mais de 20 anos e uma família inteira lá dentro, que a noite faz a ronda dos caixotes. Sai a matriarca de lanterna na mão e lá vasculha o que há, para rapidamente guardar no carro e passar ao caixote seguinte sem olhar para trás.

Que as coisas podem estar melhores acredito, mas que há muita gente que passa mal há. Realidades que nos passam ao lado mas não deixam de existir. 
Sempre que pedirem para a Mais Velha levar o que seja, ela vai levar sempre. O que eu poder, hei-de sempre ajudar. Ajudar e não deixar de agradecer sempre por aquilo que tenho e por aquilo que dou às minhas filhas.
Não tendo nada e não sendo rica, na verdade sou uma privilegiada: tenho saúde, tenho trabalho, que assim seja sempre que o resto se arranja. 
Mas se agradeço também peço que quem não tem tal sorte, um dia tenha a possibilidade de dar a volta por cima e vencer.